quinta-feira, 27 de março de 2014

Web 2.0 e Saúde

A Internet e os respectivos serviços associados, vieram dar, nas últimas décadas, um grande impulso aos chamados serviços de Saúde nas sociedades modernas e muito irá ainda melhorar nos próximos anos. A desmaterialização dos documentos de apoio à actividade clínica veio acelerar processos e melhorar muito a qualidade dos serviços prestados. Desde a marcação de consultas até à emissão e verificação de receitas ou à visualização digital dos meios complementares de diagnóstico, passando pela tele-medicina ou pelos serviços de emergência médica, tudo ficou muito mais fácil, mais rápido e mais fiável.
A quantidade de informação hoje disponível à distância de um clique bem como a quantidade de amigos disponíveis nas redes sociais para partilhar connosco as suas experiências, permite um maior conhecimento dos processos de tratamento de inúmeras patologias, nomeadamente nas doenças mais aceites socialmente (gripes, obesidade, diabetes, alergias, dores cronicas,...) ou na área da saúde emocional e psicológica (depressões, dependências,...). 

Saúde ou combate à doença?
Gostava, no entanto, ao falar de Saúde, de separar dois conceitos importantes que muitas vezes se confundem, pois uma coisa é falar de Saúde e outra é falar de combate à doença. Quando se fala do sistema nacional de saúde ou de sistemas de saúde em geral, o que vem à ideia são médicos, clínicas, medicamentos, cirurgias e urgências hospitalares e, para mim, isso é apenas uma pequena fracção do que é a Saúde. Tudo o que chamamos de sistemas de saúde estão preparados para atender situações de emergência de cura rápida de doenças agudas. Partem do pressuposto que somos seres altamente vulneráveis ao meio que nos circunda, que ficamos doentes por tudo e por nada, que os nossos 50 triliões de células não têm um sistema de auto-cura e regeneração molecular e, por isso, tem que existir um sistema exterior que repare as avarias de cada um. A raça humana resiste há milhões de anos aos presumíveis ataques do meio ambiente e nunca houve tanto hospital com tanta tecnologia como há hoje nos países mais avançados do mundo. É verdade que há novas doenças ainda incuráveis que criam grandes desafios à biologia, à química e à ciência médica mas também é verdade que há uma profunda crença que só os medicamentos das farmácias e as cirurgias é que são capazes de nos curar de tudo.
Só que a população está a envelhecer e as doenças são cada vez mais do tipo crónico do que agudo. As doenças crónicas e as doenças raras não têm uma resposta adequada neste tipo de sistemas de saúde. Só com planos de prevenção, nutrição, exercício físico e estilo de vida se conseguem gerir patologias como a diabetes, a hipertensão, incontinência, osteoporose ou mesmo depressão. Até as doenças mais graves como o cancro, as degenerativas como o Alzheimer ou Parkinson  ou as raras como o autismo, podem ser geridas de forma a criar a melhor qualidade de vida para o paciente.

A web2.0 desafia permanentemente as verdades
As redes sociais, as bibliotecas electrónicas e todos os outros serviços que constituem a web 2.0 vêm criar enormes desafios a todas as áreas profissionais e económicas como por exemplo ao jornalismo, pois hoje, cada um de nós, pode editar os seus artigos e notícias e disponibilizá-los em todo o mundo em poucos minutos ou segundos, mostrando uma opinião diferente da veiculada pelos meios de comunicação tradicionais. Nestes novos desafios, a Saúde não é excepção. Hoje os doentes têm à sua disposição uma gigantesca informação que, bem gerida e assimilada, poderá vir a substituir muitos dos serviços médicos e farmacêuticos actuais. Por exemplo um doente hoje pode verificar, através do seu telemóvel, se existe um medicamento mais económico do que aquele que o seu médico ou farmacêutico lhe está a receitar. Um doente hospitalizado pode hoje estar em contacto permanente com os amigos e até, nalguns casos, continuar a trabalhar. Os medicamentos de venda livre podem ser adquiridos e administrados com eficácia, apenas pelo doente, utilizando a sua experiência passada e a informação disponível na web, que inclui a experiência de outros doentes. Mesmo em patologias mais complicadas os computadores desempenham um papel de aconselhamento médico. Há já hoje sistemas que, por exemplo em doenças oncológicas específicas, compilam toda a informação existente na web e sugerem ao médico o plano de tratamento estatisticamente mais eficaz. Esse plano pode contradizer o plano que ele tinha pensado inicialmente e até validado com outros colegas da especialidade e traz um novo desafio deontológico: o de prescrever algo receitado por uma máquina. Onde estará a verdade?
O software e as bases de dados ocupam um papel de destaque nesta matéria e os novos dispositivos móveis abrem novas possibilidades de gestão da informação, tanto a global e estatística como a informação pessoal. A segurança e o sigilo dos dados são ainda assuntos de difícil consenso.
Mas o grande desafio da web 2.0 vai estar sobretudo ao nível da partilha de experiências de saúde, aquilo a que se vem chamando de wellness, estilo de vida, nutrição, exercício físico e mental, etc., e não propriamente de combate à doença. 
As experiências descritas e a infinidade de novas evidências científicas sobre cura, desde a acupunctura, o yoga, ou outras mais estranhas como o Reiki, a água de dupla hélice, ou o efeito placebo, estão disponíveis online, quase imediatamente após as suas realizações, estudos ou descobertas.

Algumas ideias para projectos futuros
As novas tecnologias web como a web 2.0, a cloud, o big data e outras abrem novas possibilidades de projectos e negócios no sector da Saúde que ainda estão por imaginar e explorar. Aqui vão algumas ideias para projectos futuros, alguns já planeados ou em desenvolvimento:
- Alerta de incompatibilidade de medicamentos ao dispor do cidadão, através da leitura dos códigos de barras da receita ou da suas embalagens.
- Gestão clínica integrada com disponibilização controlada e segura de dados online aos profissionais médicos ou administrativos e aos utentes e familiares.
- Estado de equilíbrio do corpo ao longo do dia, lido por sensores colocados na roupa e sugestão de plano de correcção (com nutrientes, exercício, tratamento natural, descanso, ...)
- Grupos de partilha de doenças raras e análise de eficácia dos planos de tratamento
- Grupo de partilha de investigação em determinadas experiências de cura e sua eficácia
- Apoio domiciliário remoto de rotina via tele-consulta
- Sistema de alarme e prevenção de surtos epidémicos (gripe, dengue, malária, etc.) em determinadas geografias e estações.
- Sistema de apoio ao doente que acompanha um dado tratamento através de uma determinada app instalada no seu samartphone.
- Sistema automático móvel de tradução semântica de linguagem médica e farmacêutica para quem se desloca por diversos países, línguas e culturas com diferentes sistemas de saúde e diferentes catálogos de medicamentos.

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